Arrumando o quarto dos fundos – bagunçado a tanto tempo que não sabe contar – achou uma carta velha, toda amaçada e amarelada. Estava endereçada a ela mesma. Abriu e viu sua letra desengonçada de quando era criança. Recolocou no envelope e guardou no bolso detrás da calça para ler em outro momento e então voltou a arrumar o quarto, sacudir a poeira acumulada na cômoda e na mesinha que costumava escrever em seu diário. Nas paredes, estava pôsteres dos amores, dos ídolos, mensagens, canções rabiscadas. Enquanto arrancava isso tudo das paredes, memórias de tempos até então remotos surgiam, e com isso, sorrisos; sorrisos que a muito não acontecia, não tão genuíno.
Saiu dali quando o sol já estava se pondo, o céu laranja era a vista da janela. Sentou-se na mesinha de sempre do bar e pediu sua comida favorita. A rotina daquele dia foi interrompida devido a partida da mãe. Na verdade, aquela semana estava longe da rotina de sempre. Sempre. Parecia a palavra dela, já que o lugar de sempre, a comida de sempre, a rotina de sempre eram sempre. Comeu ao som de uma banda qualquer que estava tocando. Então lembrou da carta e a retirou do bolso. Nela estava as visões do futuro de uma jovem menina sonhadora, que idealizou sua fase adulta sendo uma grande e reconhecida escritora de sucesso, com diversos livros lançados e aclamados pelo público. Sorriu mais uma vez daquilo. Sorriu, quantos sorrisos hoje! E então se lembrou da sua melhor fase, aquela que era feliz e olhou para a sua vida de hoje. Não era nada disso que ela tinha planejado. Será que ela gostava da vida que estava vivendo? Ela estava vivendo, de fato? Sobrevivendo era a palavra certa.
Naquele momento, ela olhou ao redor. Literalmente. E o viu. Ela lembra dele. De algum lugar. Estava sentado em uma mesa não muito longe. Escrevia algo em um pequeno caderno entre um logo e outra da cerveja. Parecia atordoado, ou era mera impressão. Então ele olhou para ela e sorriu. Aquilo de alguma forma a tranquilizou e a fez sorrir de volta. E a música soou alta e clara no som: “Com o tempo a vida faz crescer e aceitar. Que de repente tudo muda e troca de lugar. Não se entregue e não deixe a maré te levar, só não deixe a maré te levar”. Aquele trecho significativo, despertou-a de um transe de anos. Guardou a carta no bolso, seu copo de suco ainda pela metade e levantou. Foi em direção a mesa dele e se sentou, sendo recebida pelo maior sorriso que já tinha visto.
Texto inspirado na musica do Nx Zero "Maré" do projeto 1.000 musicas para escrever.
Adorei,um texto simples e incrível :)
ResponderExcluirGosto bastante dessa música,e o fato de ter sido ela que despertou a personagem e a fez,realmente viver,é muito bom <3
Beijos ^.^
Também fiz um texto,mas usei a sugestão de Like I'm Gonna Lose You,se quiser ver(http://littlewonderscrm.blogspot.com.br/2016/03/1000-musicaseu-vou-te-amar-como-se-eu.html)
Brigada ^^
ExcluirMuito bonito o seu texto. Parabéns pela criatividade. Está simples, porém cativante.
ResponderExcluirUma graça ver como diferentes coisas inspiram diferentes pessoas, no seu caso foi uma música que gerou esse belo texto.
http://conchegodasletras.blogspot.com.br/2016/03/lancamento-editora-arwen-marco2016.html
Me inspiro muuuuito com músicas...
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