LÁ ESTAVA BERENICE SENTADA, A desorientação fixa nos olhos azuis. Ela estava perdida. Todos a sua volta percebiam isso. Menos ela. Já era um costume seu olhar fixar em nada específico. O corpo ficava parado, mas sua mente estava a turbilhões. Disparada a quilômetros por hora. Fazendo mil e uma coisa ao mesmo tempo. Sentindo tudo ao mesmo tempo. Vivendo tudo ao mesmo tempo. Parecia que por fora, ela não estava sentindo nada. Já havia vestido a máscara do "está tudo bem" a tempos, e não a conseguia tirar. Ela mesma não sabia se estava tudo, realmente, bem. Quem poderia saber? Levantou depois de um tempo, respirou fundo e foi viver. Ou ao menos assim ela pensava.
Viver! Ao ser procurado no dicionário, viver significa ter vida, existência. Mas, era perceptível que viver e existir são verbos de significados distintos. Berenice, nesse momento, existia. Ela deixara de viver a algum tempo. E sem ajuda, ela continuaria apenas existindo, sem aproveitar os benefícios que a vida dar àqueles que vivem verdadeiramente. Basicamente, ela estava em um limbo anestésico no qual não sentia emoções diretas, presentes, existentes no agora. Somente aquelas vivenciadas no passado. Um passado distante e nebuloso.
Ela precisava de uma válvula de escape.
Ela precisava de si mesma.
Ao voltar do trabalho, as 19h37min, ela parou a esmo em um bar e pediu uma cerveja. Lá, sentada, saboreando sua bebida, ela ficou a observar a multidão. A quanto tempo ela não prestava atenção ao redor. Atenção de se importar com o que estava acontecendo, não de olhar e passar. Sentados em uma mesa a uma distancia confortável, ela se deparou com uma família: um pai e uma criança. Ele tentava a todo custo entender o que tinha acontecido naquele dia na escola de seu filho. Ao que aparentava, ele tinha sido perturbado pelos mesmos meninos que sempre o destratavam. Mas, o que o pai não conseguia entender era que seu filho, não se importava com as palavras ruins deferidas a ele. Ele estava mais interessado em brincar com seus colegas. Viver! Ele não se importava com o que os meninos poderiam dizer sobre ele precisar usar óculos: ele precisava usar para poder enxergar. Não se importava em escutar que ele era aleijado, pois ele precisava da cadeira de rodas para andar.
Ao ouvir aquilo, Berenice sentiu uma vontade enorme de chorar. A muito tempo ela não sentia o que estava sentindo. Ela saberia dizer o que era? A emoção que estava fluindo de seu coração? Provavelmente não. Ela estava a tanto tempo sem sentir nada externo, que ao se deparar com aquela cena de desprendimento de uma pequena criança, que estava começando a viver agora, que acordou de seu estado catatônico e experimentou o que não fazia. Ela compreendeu que aquele garoto estava vivendo tão intensamente, experimentando tantas coisas, tudo o que ela tinha deixado para trás. Então o beijo que ela tanto queria, aquele que aliviaria toda a angustia que ela internamente sofria, veio. Sentiu-o cálido, cheio de vida e esperança, mas ao mesmo tempo forte e ávido, quase como um tapa doloroso, um copo gelado sendo-lhe jogado na face.
Então ela sorriu.
Verdadeiramente.
E sentiu.
Que mais uma vez poderia viver.
Intensamente.
Pediu outro copo de cerveja. Mas, diferentemente da primeira mulher que sentou naquela cadeira e pediu um copo, aquela que estava ali, com as mesmas vestes, era outra completamente diferente.
A anestesia tinha acabado. O efeito se fora.
Esse post faz parte do projeto WEDA, que consiste em escrever crônicas, contos, poesias, relatos pessoas baseados em uma lista de canções escolhidas pelos participantes do grupo. Sendo basicamente escritos inspirados pelas músicas escolhidas.
Texto inspirado na música "Give Me Novacaine" do Green Day
Maravilhoso!
ResponderExcluirque texto mais maravilhoso *-* às vezes é bem mais fácil se colocar no mode automático, né? já passei por isso, e tem dias que eu ainda me sinto assim, mas são... só dias! não diariamente :D sempre tento ver o lado positivo das coisas.
ResponderExcluiradorei o texto e boa sorte com o WEDA! up.
beijos :*
http://memorialices.blogspot.com.br/
Lindo Nil! Esse texto é muito reflexivo, me faz pensar em várias situações...
ResponderExcluirbjs
www.pilateandosonhos.com
Olá Nil...lindo conto....
ResponderExcluirHoje em dia temos a mente sempre ocupada demais, estamos lá, mas não estamos...é necessário deixar entrar sempre algo novo em nossa vida, para realmente viver....beijocas
Dália Duarte
www.divalikealady.blogspot.com
Olá!que texto maravilhoso,ajuda a refletirmos com certeza,amei a postagem,estava precisando ler isto rsrsrs.aproveito a visita para te seguir.uma ótima semana para você!bjss http://wwwmazeblogspotcom.blogspot.com.br/
ResponderExcluirAdorei seu texto, como o outro que havia lido. Infelizmente, é mais fácil existir a viver... como mencionastes no texto.. quando vivemos, sentimos... e a anestesia de existir é mais fácil do que passar por problemas. Eu já existi por um bom tempo, hoje parece que pisquei pq não tirei proveito daqueles momentos... Ótimo texto. Bjs
ResponderExcluirNI, que delícia de ler. Nossa me vi muito em Berenice e seu estado letárgico. Qts vezes temos que esperar esse beijo? Como acabamos dormindo em nossas próprias vidas? Amei. Obrigada.
ResponderExcluirNI, que delícia de ler. Nossa me vi muito em Berenice e seu estado letárgico. Qts vezes temos que esperar esse beijo? Como acabamos dormindo em nossas próprias vidas? Amei. Obrigada.
ResponderExcluirOi Nil, que texto expressivo, muitas vezes estamos tão acostumados com determinadas situações que não percebemos quanto tempo passou....
ResponderExcluirBoa semana para você.
Que texto forte.. Amei ler essa maravilha. Nos leva a refletir.
ResponderExcluirBeijinhos!!
Parabéns pelo texto,maravilhoso,é uma ótima reflexão!
ResponderExcluirwww.estilosamorena.com
beijos.
Que texto maravilhoso, daqueles que nós fazem para e refletir um pouco
ResponderExcluirEnvolvente texto, gostei heim muito lindo e bem expresso, me encantei com a Berenice e sua capacidade de sentir.
ResponderExcluir✡✡Blog Encantado: Atellier Com Mãos de seda ✡✡
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Amei o texto! Muito profundo! De vez em quando precisamos disso,de ficar instagnadas para poder refletir, refletir em algumas coisas,ou pessoas,ficar em uma epécie de congelamento emocional para que fiquemos imunes a qualquer tipo de emoção ou sentimento....
ResponderExcluirUau!
ResponderExcluirImpactante... Muitas vezes, por muito tempo vivi assim...
Ler esse texto foi como receber aquele beijo.
Um beijo.
Oi! Tudo bem? Estou passando para avisar que o Blog Nuvem de Novembro indicou seu blog para o Prêmio Dardos! Espero que goste: http://nuvemdenovembro.blogspot.com.br/2016/04/selo-premio-dardos.html
ResponderExcluirGostei MUITO! Só dar uma enxugadinha nos adjetivos e adverbios que fica nota um milhão *-*
ResponderExcluirParabens =D